sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

MEMÓRIAS DE UM ENCONTRO PROMISSOR COM A EJA

ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL LIBERAL ZANDONADI

Venda Nova do Imigrante

Por Melry Silvério



A Faculdade de Venda Nova do Imigrante – FAVENI – tem como parte de sua matriz curricular, a disciplina de Metodologia para o Ensino da EJA, Educação de Jovens e Adultos.
Com intuito de aproximar as teorias estudadas à prática educativa, no dia 23 de setembro de 2011, foi realizado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Liberal Zandonade, um encontro com a EJA. O acontecimento contou com a presença das alunas do 8º Período do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da professora responsável, dos alunos e da professora da EJA*.
Esse acontecimento foi um dos momentos mais marcantes de nossa formação, pois tivemos a oportunidade de confrontar teoria e prática, o que nos proporcionou uma melhor assimilação dos conhecimentos advindos da faculdade. Nesse dia, a disciplina que seria ministrada em sala de aula, se deslocou para um local diferente, o ambiente educativo dos principais envolvidos, jovens e adultos.
A professora do 8º Período de Pedagogia, Clemilda Bergamim, fez a abertura e, em alguns minutos, fez uma retrospectiva do conteúdo estudado com a finalidade de reavivar nossos conhecimentos.
Logo após a abertura do encontro, a docente fez questionamentos direcionados aos alunos da EJA*:
- Por que vocês acham que estudamos esta disciplina na faculdade?
- Por que decidiram voltar a estudar?
Ainda meio acanhado, um dos alunos respondeu que tinha voltado a estudar porque queria ser alguém na vida. Com o relato, algumas das concluintes presentes ficaram sem reação, e com sua “jogada de mestre” a professora Clemilda interrompeu o estudante dizendo que todos ali já eram alguém e que estavam naquele recinto para ampliar seus conhecimentos.
Nesse contexto, a troca de saberes foi muito pertinente e jogou por terra diversas ideias preconcebidas de que sabemos mais que os que estudaram menos, confirmando a fala de Paulo Freire ao afirmar: Não existe conhecimento pior, ou melhor, apenas diferente.
No decorrer do evento, percebemos que aqueles alunos estavam ali com sede de saber. E que, apesar das responsabilidades diárias, eles chegavam à escola com a esperança de se tornarem pessoas que, de alguma forma pudessem, exercer melhor sua cidadania.
Observamos também que a motivação e a esperança dos alunos foram fatores impulsionadores fundamentais para que a professora responsável pela turma da EJA* ensinasse de forma tão dedicada e humana, segundo relatos dos alunos.
Contudo, contrastar teoria e prática nos fez refletir sobre os desafios da modalidade de ensino, e também considerar a ideia de que, muitas vezes, não é o mais indicado aprendermos por meio de modelos imutáveis, porém ter como referência uma profissional como a professora daquela turma contribuiu, e muito, em nossa formação.
Além dos conhecimentos adquiridos, um dos momentos que sobressaíram naquele dia foi ouvir o relato de uma aluna, de quase 60 anos, do primeiro segmento da EJA* ao ser perguntada sobre o porquê de estar ali,e se estava gostando, aprendendo, ao que ela respondeu:
“Eu estava até indo bem, quase aprendendo a juntar as letras, só que hoje (23/09/11) faz um mês que enterrei meu filho, daí eu esqueci o que sabia”.
Emoções e comparações com o empenho de alguns dos alunos do ensino regular à parte, com palavras de incentivo, persistência e sucesso saí do local com uma bagagem de conhecimentos bem maior do que quando entrei no recinto, e o mais interessante foi ter aprendido com pessoas, cuja experiência escolar não possibilitava sequer assinar nome.
Em suma, tivemos por meio deste encontro com a EJA* boas expectativas, ampliação de saberes e quebra de paradigmas, que nos fizeram compreender alguns dos reais objetivos da escola.
Amparados pelas incumbências da modalidade, pelas observações e pelos conhecimentos adquiridos na disciplina, pudemos perceber que a escola não deveria apenas universalizar o acesso ao conhecimento e sim criar condições estruturais e pedagógicas que viabilizem a todos os educandos, especificamente os da EJA*, continuidade em sua formação, cujos objetivos direcionados à modalidade em questão sejam mais reais e verdadeiramente baseados na contextualização dos saberes da experiência dos alunos, na qualidade no processo de ensino aprendizagem, na criticidade e na conscientização política em todas as escolas, pois somente assim serão recompensados aqueles que não puderam estudar em tempo normal, fazendo surgir transformações necessárias ao seu meio.

*EJA= Educação de Jovens e Adultos

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